sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Relatório Final

  Depois de meses sem postar, venho para atualizar e compartilhar meu Relatorio Final do Intercambio. Tentei resumir com as minhas palavras tudo que eu senti, aprendi e vivi durante meus 11 meses nas Filipinas.


Expressar-me sobre meu ultimo ano é difícil até porque aconteceram tantas coisas em tão pouco tempo que eu tenho dificuldade em resumir e selecionar os momentos mais importantes, todas as experiências foram mais do que válidas. A ideia de fazer um intercambio foi do meu pai por ter conhecido a Germana e ela ter comentando com ele sobre a oportunidade de um intercambio, meu pai foi a primeira pessoa a me apoiar cem por cento, entrou comigo nessa jornada, desde o inicio, e do meu lado ficou até o final, me dando todo o incentivo e apoio que eu precisava. Não tinha muita noção de intercambio, de Rotary Internacional, e para ser bem sincera, nunca me imaginei saindo do país, que dirá fazendo um intercambio, aprendendo uma nova cultura, uma nova língua, novos costumes, um novo modo de se viver.
Com o decorrer do tempo e através da seleção fui aprendendo mais sobre o Rotary Internacional e seus programas. Durante a seleção aconteceram fatos que me mudaram bastante, durante esse processo eu passei a querer um intercambio diferente dos que já aconteceram, então eu decidi que o país que viesse eu iria aceitar, eu estava disposta a me adaptar a qualquer cultura, estava disposta a viver cada segundo dessa experiência. Então, recebi um e-mail com as Filipinas como opção de intercambio. Fiquei realmente surpresa e decidi então encarar essa oportunidade, eu tinha uma noção da dificuldade que eu iria encontrar, mas por que não? Eu estava disposta a encarar as dificuldades com a língua, com a cultura, com a adaptação, eu simplesmente estava disposta a viver e aprender.
O tempo passou muito rápido e quando eu me dei por conta eu estava no aeroporto de Porto Alegre iniciando a minha jornada. Ali, naquele momento eu pensei, será que vou ter mesmo coragem? Foi então que eu vi através da despedida com a minha família que aquilo era realmente real e que estava mesmo acontecendo. A minha primeira experiência foi viajar de avião, eu estava realmente realizada, feliz e com uma vontade imensa de aproveitar cada segundo. Quando eu cheguei no aeroporto de Roxas City, vi pessoas cantando, minha Host Family e o meu Host Club me esperando com uma faixa enorme, me senti aliviada, pois até então eu não sabia o que estava me esperando e me sentia um pouco amedrontada com toda essa situação. Mas não poderia ter sido melhor recepcionada naquele país.
A comunicação foi a minha principal barreira, pois além do inglês eles falam Visaya e Tagalog, os quais eu não dominava. Os meus primeiros meses foram os mais complicados, pois além da comunicação tinha a questão do conhecimento e adaptação à vida Filipina. Como no primeiro mês eu já estava frequentando a escola, se tornou um pouco mais fácil, pois na escola além da família eu recebi muito carinho, e muita ajuda de todos. Diferente do que eu imaginei, não tive dificuldade em relação à cultura, costumes e a comida, o que eu fiz para não ter dificuldade com isso, foi estar com a mente aberta e aceitar e tentar compreender a cultura e os costumes. Então eu tentei, logo de inicio, fazer o que eles faziam comer o que eles comiam, e realmente assim, estando aberta a conhecer, aceitar e até mesmo se integrar a cultura eu não tive dificuldade. Eu tive a oportunidade de viver por um tempo com três famílias, três experiências completamente diferentes, cada família com seu jeito, com seus costumes. Também não tive nenhuma dificuldade com a adaptação às famílias, elas possuem uma importância enorme na minha vida e eu os amo realmente como meus pais. Aprendi em cada família um jeito de se viver nas Filipinas, jeitos diferentes de encarar a cultura e os costumes filipinos.
O tempo passou, e eu senti muitas saudades do Brasil, mas eu estava tão realizada, tão surpresa, tão emocionada com aquele país, com aquela cultura, com as pessoas, com o que eu estava vendo, vivendo, que eu nem vi o tempo passar, eu não tinha tempo em pensar em sentir saudades, em pensar em voltar, eu queria apenas viver naquela cultura, tentar entender e aprender. Filipinas é um país humilde, e nem por isso eu deixei de conhecer a felicidade por lá, pelo contrario, lá vivem as pessoas mais felizes que eu já vi. É incrível como as pessoas são felizes por mais que tenham as dificuldades que possuem, o sorriso filipino foi o que mais me contagiou, foi o que mais me marcou, eu nunca presenciei alguém reclamar da vida, ou reclamar das dificuldade, muito pelo contrario, quanto mais dificuldade mais elas tem vontade de viver, mais elas lutam pelo que elas querem, quanto mais motivo para tristeza mais elas sorriem. É incrível a vontade daquelas pessoas, elas se contentam e são MUITO felizes com o que elas tem, por mais que seja pouco, elas simplesmente aceitam a realidade delas e são muito felizes, e sempre com a esperança que tudo irá melhorar. Esse positivismo, essa felicidade me mudou muito, me fez compreender, e dar mais valor a tudo que tenho, a minha convivência com essas pessoas me fez entender que temos que ser felizes não importando as dificuldades.
O país me mostrou que a desigualdade social pode não existir, as pessoas podem conviver sem diferença alguma, por mais que tenha pessoas que tenham mais condições financeiras que outras, eu percebi que sem exceção, todas as pessoas são simples e não dão valor a coisas materiais. Para ser bem sincera, não se sabe quem tem mais condições ou não, as pessoas são tão simples, tão gentis umas com as outras que não percebemos essa tal diferença, que nesse país ‘pobre’ exista.  Fala-se em país pobre, mas o que é a pobreza perto de toda a felicidade encontrada lá, o que é a pobreza perto de todo aquele empenho e vontade de viver, vontade de ser FELIZ. Então, Filipinas não é um país ‘pobre’ como dizem, muito pelo contrário, aprendi nesse país ‘pobre’ que as coisas materiais realmente não tem valor, mesmo para aqueles que possuem pouco, a felicidade, a esperança é muito mais importante, a vontade de querer mudar, a vontade de querer ser feliz, é isso que importa.
Aprendi que felicidade é ter vontade de viver, é não ter nada e sorrir, é ter determinação. Todos tem esperança de que vai mudar, mas sempre com um sorriso no rosto. Tem pobreza material? Sim, mas é essa dificuldade que faz com as pessoas tenham mais vontade e deem valor ás poucas coisas que elas tem, é essa pobreza material que faz com que elas sejam mais felizes. Esse país me mostrou que tudo é possível, que as pessoas podem ser felizes em qualquer situação basta querer, e que quanto mais dificuldades tiverem mais esforço, mais empenho e mais determinação elas terão.
Aprendi a insistir e acreditar em mim mesma, aprendi a realmente dar valor às coisas que realmente importam, aprendi a ser feliz com o que eu tenho e buscar o que eu realmente quero na minha vida. Essa experiência fez com que eu amadurecesse minhas ideias e meus conceitos, me fez mais feliz, me fez mais determinada, fez com que eu fizesse coisas que eu nunca imaginei fazer. Fez com que eu realizasse sonhos que eu nunca imaginei que eu realizaria, isso tudo me fez sentir tantas coisas ao mesmo tempo, me fez ver a vida de uma forma tão diferente, me mudou emocionalmente.
Nas Filipinas, eu vi os colonos semeando grão a grão sem tecnologia nenhuma; vi eles mostrando a cultura dançando Tinikling, semelhante a nossa chula; vi o carnaval com todos sujos de tinta; vi eles velando seus familiares durante 10 dias sendo que no primeiro dia chorando e nos outros nove dias festejando, pois acreditam que aquilo não era o fim da vida e sim apenas uma despedida; vi eles cultuarem o Halloween no cemitério junto aos seus familiares já mortos; vi o professor sendo tratado com a dignidade que o educador merece; vi o professor dando aula com entusiasmo, como se fosse sempre seu primeiro dia de aula, eu conheci o respeito entre alunos e professores/educadores; eu vivi em tempo de 8 horas diárias na escola, com direito a alimentação de boa qualidade e todos os alunos uniformizados; vi um transito sem sinais, sem semáforo, e as pessoas respeitando uns aos outros; vi a maturidade chegando as 15 anos; vi as meninas debutando aos 18 anos; vi um país Católico praticante, em que todos cultuam a religião e que a mesma faz parte de suas vidas; vi respeitarem a vida; vi darem valor as mínimas coisas da vida; vi pessoas gostando de chimarrão; vi um homem sentado no chão, paralítico atravessando a rua com o guarda-chuva nas pernas sendo que estava chovendo, e quando cruzamos nossos olhos, ele me olhou e sorriu; vi pessoas pescando e durante toda madrugada se preparando para vender durante o dia, passei por feiras as 5 horas da manha e vi pessoas dormindo do lado de suas frutas, de seus peixes.
Estas experiências e muitas outras eu vi, vivi, aprendi, aceitei e compreendi, foram coisas que marcaram a minha vida para sempre, experiências que jamais se apagarão da minha lembrança.
Hoje eu sou uma pessoa muito diferente de quando eu fui e isso tudo aconteceu proporcionado pelo Rotary, essa organização que eu não tinha nem noção do que era que me ensinou e me proporcionou as experiências que eu tive, as quais eu jamais pensei em viver. Eu serei grata ao Rotary Internacional sempre. Obrigada ao meu Distrito 4660, ao meu Rotary Clube de Santa Maria, por terem me dado essa oportunidade, por terem acreditado e confiado em mim, por terem me ensinado tudo o que eu sei hoje, por terem me mudado para melhor, por terem acompanhado e vivido toda essa experiência comigo. Obrigada pelas pessoas que me proporcionou conhecer. Obrigada pela pessoa que eu sou hoje, e podem ter certeza que eu sempre estarei ligada ao Rotary, não só por agradecimento, mas por querer estar nessa organização, por querer aprender mais, por querer ajudar quem precisa, poder fazer o bem sem olhar a quem.